Arte angolana
Angola é um país africano em desenvolvimento caracterizado por uma diversidade de culturas e por um rico património cultural, constituído por um conjunto de povos de diferentes culturas e tradições. Apesar da influência ocidental, o povo angolano em diferentes regiões difere nas suas crenças, cultura material, organização social, religião, convicções políticas e ideológicas, falam diferentes línguas com um fundo cultural comum e a arte é considerada como uma das mais importantes componentes da cultura das sociedades tradicionais como herança do passado. Por este facto a arte como produto e expressão de cultura constitui um campo ideal para observar esta realidade, já que através dele os estudos no domínio da História da África permitem hoje reduzir a importância dos mitos e localizar a arte na perspectiva do Africano. Após as tentativas tão difundidas de ligar a arte africana a um conceito mais ou menos funcional ou especificamente religioso, surge finalmente uma análise do tipo estético, onde o universo das formas é fundamental. A redução das formas ao essencial engloba a apreensão de significações expressivas, segundo Fernando Mourão* ou de tornar visível o invisível, na expressão de Paul Klee, pondo em evidência o implícito. No que a arte africana apresenta de específico, é fundamental o facto de ser uma arte impregnada de dinamismo, aceite com o merecido reconhecimento e uma atenção mais ou menos constante pelos museus ocidentais a partir dos anos 60, tendo contribuído para esta valorização vários factores entre os quais, segundo o crítico de arte angolano Mixinge*, se destaca a independência política dos países africanos, os movimentos de direitos cívicos nos Estados Unidos e o desafio à arte convencional feito por vários "movimentos anti-arte". Impulsionou-se assim por parte de vários autores ocidentais uma reavaliação do conceito de "arte" para outros mais abrangentes. Como sublinha Mcfee*, "a arte, é feita com um propósito na tentativa de enriquecer a mensagem ou destacar o objecto ou estrutura e afectar uma consciência de qualidade e conteúdo no observador". Este conceito ultrapassa os limites do estético, procurando, além das características formais da obra, circunscrevê-la histórica e antropologicamente. Conteúdo e forma, assim sendo, não apresentam diferenças. Embora os fundamentos da arte africana sejam comuns a todo o continente africano, o que se pode constatar em publicações recentes sobre arte moderna e contemporânea do continente africano, cada país teve experiências e percursos diferentes e especificidades nacionais enraizadas nas tradições particulares dos Estados/Nações da África pós-colonial. No caso de Angola, a ausência de investigação e reflexão no domínio da História da Arte Angolana contribui significativamente para a escassa informação sobre acções desenvolvidas no período colonial pelas instituições oficiais. Noutros países da África sub-sahariana do espaço anglófono e francófono, verificou-se precisamente o contrário do que ocorreu em Angola. Nestes países sucederam-se visitas de Europeus missionários, artistas e amadores de arte a partir dos anos 20 e 30 do século XX, período que se caracterizou pela afirmação do "modernismo" na América Latina, a introdução das vanguardas europeias do início do século e o desenvolvimento de experiências particulares no domínio da prática artística na África sub-sahariana (Pierre Gaudibert, 1994). No entanto, em Angola só veio a verificar-se a partir da década dos anos 40 do século XX, o contacto dos artistas autóctones angolanos com determinados artistas e mecenas europeus (Viteix, 1983). Alguns destes artistas como professores do ensino oficial português e outros como visitantes na colónia de então, contribuíram para a introdução de técnicas artísticas ocidentais cujos aportes manifestaram-se em diferentes tendências tais como a ruptura com os cânones da arte africana em favor das fórmulas greco-romanas e o seu posterior prolongamento ao conceito da arte "moderna" segundo a perspectiva ocidental.
Entretanto esta influência singulariza-se igualmente na apropriação das técnicas ocidentais como a pintura de cavalete, o trabalho no torno, os novos métodos de montagem de escultura, aos quais se juntam outros como o desenho e a iniciação à prática da arte, de novos meios de difusão e de promoção artística e a incisão no linóleo e madeira como suportes de impressão. Com a introdução das técnicas e modelos artísticos ocidentais, o artista angolano dos principais centros urbanos, desenvolve uma arte com preponderante imitação da arte europeia académica numa óptica de assimilação e num contexto que reflecte o gosto conservador do colono e artistas europeus. Persistiram como temas, os retratos associados à etnografia colonial, as naturezas mortas e as paisagens a óleo, a guache ou a aguarela, tratados igualmente num estilo naturalista convencional, os mais parecidos com a fotografia às vezes com um acento "naif", frequentemente idealizado e decorativo em ruptura com toda a tradição, reveladora de uma renúncia à identidade africana. Entretanto, na década dos anos 50, período de acontecimentos de carácter político, social e cultural, com o desenvolver da luta de libertação nacional de forte repercussão para a História de Angola, sobretudo a pintura é mais influenciada por um conteúdo político - temas de conteúdo ideológico - do que pela forma, integrando o artista no combate contra a opressão colonial.
Fonte:Jorge Gumbe